Atividades desenvolvidas por duas profissionais do Case Jaboatão oportunizaram
a socioeducandos a partilha de sentimentos decorrentes do anseio pela liberdade
Como lidar com a frustração de ainda ter que esperar mais um pouco pela liberdade? Foi a partir desse mote que duas profissionais da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) passaram a desenvolver um trabalho amparado em práticas da Justiça Restaurativa com adolescentes em internação na unidade da instituição em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. Os chamados círculos de superação, que ocorreram durante dois meses, entre junho e agosto, foram considerados exitosos e abriram portas para que novas rodadas da atividade sejam realizadas no local, que atende 43 socioeducandos.
A inserção da Justiça Restaurativa na rotina de trabalho, uma tecnologia social que visa à conscientização sobre conflitos e violência e a proposição de soluções estruturadas a partir de técnicas circulares, ocorreu no início do ano, por meio do trabalho da psicóloga Lilian Fonseca, membro do Núcleo de Justiça Restaurativa da Funase, junto à coordenação e à equipe do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) Jaboatão. Desde então, foram realizados alguns círculos restaurativos com funcionários e adolescentes. Mas a ideia de trabalhar a temática da superação surgiu após a realização de audiências pelo Judiciário, que, com base em relatórios técnicos, decidiu substituir ou extinguir a medida socioeducativa para alguns adolescentes, mas manter a internação para outros.
“Alguns adolescentes viam seus colegas de quarto terem a oportunidade de sair da Funase depois das audiências, e eles não. Então, pensamos em conversar sobre isso. Fizemos os círculos de superação com a proposta de que eles compartilhassem com a gente e com outros adolescentes o que aconteceu na vida deles de bom e de ruim e como eles superaram o que foi desfavorável. Também perguntamos o que eles tinham dentro deles e que não mudariam. Foi uma proposta interessante, porque, geralmente, se pergunta o que a gente gostaria de mudar em nós”, diz a advogada Poliana Alencar, uma das profissionais envolvidas na atividade.
A psicóloga Cristiane Campelo, que também esteve à frente dos trabalhos, conta que, apesar de o resultado das audiências do Judiciário terem sido um ponto de partida, outros assuntos foram aparecendo nos círculos de superação. “Eles trouxeram de modo muito forte o sentimento de estar ali longe da convivência comunitária. Nossa proposta foi ajudá-los a superar essa frustração, focando nos pontos que contribuem para contornar momentos difíceis, sem que isso se colocasse como algo pedagógico, no sentido de ensinar alguma coisa, mas para oferecer um espaço acolhedor, de troca, de compartilhamento de histórias”, conta a profissional.
Os círculos de superação atenderam socioeducandos de todos os espaços da unidade. Com o fim dessa primeira rodada, já está em elaboração um novo ciclo de atividades, desta vez, abordando o tema “Árvore da Vida”. De acordo com as profissionais envolvidas, a ideia vai ser levar os adolescentes à reflexão de que, apesar de estarem na Funase por algo negativo que praticaram, eles, assim como todas as pessoas, também têm o que dizer sobre coisas boas que já realizaram na vida. Será a ocasião para que, de forma voluntária, os socioeducandos possam se expressar sobre o que pensam acerca de onde estão e aonde querem chegar.
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